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Maternidade e carreira: desafios, possibilidades e oportunidades

Para equilibrar as duas questões, é importante ter suporte das organizações, apoio do(a) cônjuge e observar que, apesar dos desafios apresentados, a combinação também pode trazer oportunidades

Conciliar maternidade e carreira sempre exigiu um grande esforço por parte das mulheres. Desde a antiguidade, há uma tendência de separação clara de papéis nas sociedades: o trabalho e o sustento da família eram tradicionalmente associados aos homens, enquanto o cuidado da casa e dos filhos sempre foi mais vinculado ao universo feminino. Por isso, quando as mulheres começaram a sair da esfera doméstica e reivindicar seu espaço no mercado, muitas passaram a enfrentar uma tripla jornada, já que, além de seus cargos profissionais, as expectativas de organização do lar e responsabilidade pelos filhos continuaram recaindo sobre elas.

Existem muitos vieses inconscientes nesse sentido, internalizados tanto pelos homens quanto por nós, mulheres. Somos vistas historicamente como cuidadoras, o que está relacionado não só ao fato natural de termos uma conexão mais próxima e direta com as crianças – devido à gestação e à amamentação, por exemplo –, mas também à questões estruturais e sociais, que estabelecem uma divisão desigual na dedicação aos filhos. Assim, por um lado, pode haver uma falta de percepção ou de interesse do companheiro em equilibrar essa balança e, por outro, nós, as próprias mulheres, podemos ter dificuldade em nos desvincularmos dessas noções e compartilhar as responsabilidades.

É verdade que as coisas evoluíram ao longo dos anos, mas os desafios para conciliar maternidade e carreira ainda preocupam e são uma dificuldade real para muitas mulheres. Uma pesquisa conduzida em 2023 pela consultoria Elliott Scott HR Brasil revelou que 69% das mulheres com filhos na primeira infância acreditam que seu crescimento profissional é mais lento em comparação com aquelas que não optaram pela maternidade. A falta de conscientização no mercado de trabalho sobre a conciliação entre filhos e carreira, juntamente com a ausência de processos estruturados para licença maternidade e retorno, são destacadas como preocupações significativas. A percepção de discriminação contra mães na primeira infância é evidente, com 39% delas perdendo oportunidades devido à gravidez. Apesar dos desafios, 44% acreditam que a escolha da maternidade é uma decisão pessoal e familiar, enquanto apenas 9% se sentem mais confortáveis para ter filhos no início da carreira. 

Qual pode ser o papel das empresas?

Encarar os desafios de ser mãe e profissional ao mesmo tempo se torna menos difícil quando recebemos suporte das organizações. Como os dados mostram, muitos empregadores passam a desvalorizar a mulher a partir do momento em que a gestação é anunciada, sem levar em conta os talentos em potencial, a diversidade e o valor que essas pessoas agregam para a organização. Nesse sentido, dialogar e ser flexível são dois pontos fundamentais. Proporcionar uma maior flexibilidade para as mulheres que são mães, incluindo horários ajustáveis e a possibilidade de trabalho remoto ou híbrido, por exemplo, podem facilitar a rotina.

Porém, para isso, é importante conhecer a realidade das profissionais – o que requer comunicação aberta, escuta ativa e uma boa dose de empatia – e verificar se tais medidas realmente auxiliam e trazem o impacto desejado. Afinal, a implementação eficaz de políticas para ajudar as colaboradoras depende do conhecimento prévio de suas necessidades, o que só pode ser feito por meio do diálogo.

Nesse sentido, é importante também que as organizações tenham proatividade com as mulheres. Em vez de esperar que elas peçam ajuda ou tentem negociar uma flexibilização, a organização, através das lideranças em conjunto com as áreas de pessoas, pode tomar a iniciativa de criar medidas de apoio e acolhimento. Isso é importante tanto para quem está vivendo a experiência da maternidade, e todas as mudanças que isso traz, quanto para a própria empresa, pois, quando as profissionais podem contar com esse apoio proativo, elas tendem a valorizar mais a organização e a se engajar no trabalho – sem contar que ficam menos sobrecarregadas, o que contribui para sua saúde mental e produtividade.

Outra medida que poderia facilitar a conciliação entre maternidade e carreira é a licença parental compartilhada, já uma realidade em vários países. Trata-se de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que está em tramitação no Congresso Nacional e busca substituir a licença-maternidade (atualmente de 120 dias) por uma licença com duração de 180 dias, que podem ser divididos entre os genitores ou responsáveis legais das crianças. Se for aprovada, a ação pode tornar mais equilibrada a divisão do cuidado com os filhos desde cedo.

Maternidade e carreira: como as mulheres podem lidar?

Reflexões internas também são importantes para nós que estamos vivenciando a maternidade e, ao mesmo tempo, investindo em nossa vida profissional. Essa experiência muitas vezes traz um sentimento forte de culpa: tendemos a achar que somos mães ruins por nos comprometermos com o trabalho, ou que somos profissionais ruins por dedicarmos tempo aos filhos, ou os dois simultaneamente. Ao longo do tempo, isso gera um desgaste emocional que pode até mesmo fazer mal à saúde. Então, é fundamental, em primeiro lugar, refletir sobre o que realmente queremos e podemos fazer nesse momento, ou seja, se desejamos conciliar as duas coisas ou nos dedicar somente a uma delas – o que envolve também discussões sobre questões financeiras e o contexto da organização e da família.

Seja qual for o caso, é importante buscar apoio para lidar com a situação e conduzi-la da melhor forma possível. Isso inclui, para começar, conversas abertas com o companheiro(a) para fazer combinados e acordos. Quando há alinhamento sobre as expectativas e responsabilidades de cada um e consenso entre as partes, o processo se torna mais fácil. É necessário destacar, ainda, a importância de o(a) cônjuge apoiar e auxiliar a mulher nessa vivência da maternidade, especialmente se for uma experiência inédita.

Outro ponto interessante a ser considerado é que as crianças são mais flexíveis do que se imagina. Muitas vezes sofremos mais do que os filhos com o processo de conciliação entre maternidade e carreira, como, por exemplo, quando há necessidade de deixá-los sob o cuidado de outras pessoas. Porém, a verdade é que, em geral, os pequenos conseguem se adaptar com certa facilidade à mudanças e novidades, o que pode ser um importante consolo para suas mães.

Por fim, também é uma possibilidade que as mulheres participem de grupos de apoio e conversem com pessoas que estão passando pela mesma situação. Isso pode servir como uma importante válvula de escape, de motivação, empoderamento e responsabilização, ajudando as mães a lidar melhor com os desafios da maternidade e da vida profissional. 

A maternidade como uma oportunidade de avanço na carreira

Apesar de trazer consigo desafios significativos, a experiência da maternidade pode impulsionar o desenvolvimento de habilidades essenciais no ambiente de trabalho. A gestão eficiente do tempo é aprimorada pela necessidade de equilibrar responsabilidades familiares e profissionais. A resolução de problemas é fortalecida ao lidar com desafios complexos da maternidade. A comunicação efetiva se desenvolve na interação com os filhos. A resiliência é cultivada ao enfrentar as alegrias e desafios da parentalidade. Habilidades de negociação e tomada de decisões assertivas são refinadas na administração das dinâmicas familiares. A empatia se aprofunda no cuidado e compreensão das necessidades dos filhos. A adaptabilidade é aprimorada diante das constantes mudanças na dinâmica familiar. O gerenciamento de estresse é refinado pela pressão e responsabilidade associadas à maternidade. Liderança é exercida ao assumir papéis de liderança na família. Multi-tarefa se torna uma segunda natureza ao equilibrar várias demandas simultaneamente. 

Essas habilidades, cultivadas pela maternidade, podem contribuir significativamente para o sucesso profissional das mulheres.

Concluindo, a equação entre carreira e maternidade é desafiadora, mas exige nossa atenção e ação imediata. Devemos transcender estereótipos, construir ambientes corporativos mais inclusivos e romper com o preconceito que limita o crescimento profissional das mães. A criação de processos estruturados para a licença maternidade e retorno ao trabalho é essencial, assim como a promoção de diálogo e conscientização no mercado sobre a importância de conciliar filhos e carreira.

Ao reconhecer as habilidades notáveis que as mães adquirem, como flexibilidade, inteligência emocional e resiliência, podemos começar a transformar a narrativa. Unindo forças, líderes, empresas e colaboradores podem criar um ambiente onde a maternidade não seja um obstáculo, mas uma força impulsionadora. Convidamos todos a promoverem a igualdade de oportunidades e juntos construirmos um futuro onde as mulheres não precisem escolher entre carreira e maternidade, mas possam florescer em ambos os caminhos. Vamos juntos quebrar os tabus e criar um ambiente profissional verdadeiramente inclusivo!

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