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Boa forma mental: um novo conceito de mamãe fitness

Bianca Aichinger e Susana Azevedo

Quando pensamos em maternidade, é natural nos depararmos com o contraditório: por um lado a beleza de gerar, a responsabilidade de educar e preparar para vida e por outro, as escolhas que podem significar renúncias, a sensação de nunca fazer o bastante, o sentimento de frustração com a impossibilidade de equilibrar múltiplos papéis. Haveria uma saída para que o lado compensador da maternidade se sobrepusesse às demandas a que as mães são submetidas diariamente?

Se nos valermos do trabalho do professor e pesquisador da Universidade de Stanford, Shirzad Chamine, há sim uma saída simples e eficaz para os dilemas de mães e todos os outros indivíduos. Chamine, por meio de seu trabalho a respeito da Inteligência Positiva, apresenta o conceito da boa forma mental: assim como cuidamos do corpo para estar em boa forma física, também precisamos cuidar da mente para atingir a boa forma mental. Nesta abordagem, que permite o desenvolvimento efetivo de inteligência emocional e resiliência mental, encontramos uma possibilidade de as mulheres vivenciarem uma maternidade mais leve e prazerosa.

Segundo Chamine, o fortalecimento da boa forma mental consiste em exercitar três “músculos mentais”. Estes exercícios, realizados com consistência, permitem a melhoria da autogestão e bem-estar. O “programa de treinamento” proposto pelo pesquisador destaca o trabalho de interceptação dos “Sabotadores”, o de desenvolvimento do que denomina de “Sábio” e no exercício do Auto comando.

Todos nós temos comportamentos e sentimentos que podem até ser positivos, mas quando, extrapolados e super utilizados, podem trazer impactos negativos em nossas vidas. Um exemplo é a diferença entre cuidado e superproteção: enquanto um é positivo, o outro pode ser nocivo. É assim que tendemos a nos sabotar, ao exercer padrões de comportamentos ou pensamentos nocivos ao nosso próprio bem-estar. Ao nos deparamos com um evento negativo, nossos “Sabotadores” nos levam a reações primitivas, ligadas ao nosso instinto de sobrevivência e autoconservação. Os Sabotadores são responsáveis pelo disparo de emoções negativas como stress, ansiedade, dúvida, raiva, evitação, procrastinação, insensibilidade ou descontentamento. O desenvolvimento do “músculo mental” do interceptador dos sabotadores se inicia com o autoconhecimento e clareza relativa à forma como nos sabotamos, que pode ser atingida através de um breve formulário desenvolvido pelo pesquisador, encontrado aqui. Ao entendermos nossos padrões, conquistamos a possibilidade de agirmos sobre eles.

Já o “músculo mental” do “Sábio” nos proporciona estratégias para lidar com desafios de forma consciente e intencional, valendo-se de emoções positivas e encarando as situações como oportunidades de aprendizado. O autor cita cinco estratégias principais para o desenvolvimento deste “músculo”, que são: empatia, exploração, inovação, navegação e ativação. Ao encararmos uma situação difícil e entrarmos em contato com nosso “sabotador”, o autor nos propõe que se exerça o “auto comando”, que seria a capacidade de estimular e impulsionar a sua habilidade de comandar a mente para acalmar a região dos Sabotadores e amplificar a região do Sábio. Esta ativação, que pode ser alcançada através de pausas ou exercícios simples, curtos (a partir de 10 segundos cada) e frequentes de presença (como respiração focada, por exemplo), tem o poder de permitir o reequilíbrio e fortalecer o autocontrole.

Simplificando: exercitar a boa forma mental é a capacidade de reconhecer, interceptar e desacreditar os seus sabotadores – pensamentos e sentimentos negativos –, aprendendo por meio de exercícios diários simples a dirigir e gerenciar nosso cérebro, não permitindo que os “sabotadores” nos gerenciem.

Para as mães, esse pode ser um aprendizado poderoso nos momentos em que a frustração, o desânimo e o cansaço chegam. Além de salientar a necessidade do autoconhecimento para identificar quais os sentimentos negativos e neutralizá-los, a boa forma mental também reforça a necessidade de reenergização e reconexão no decorrer do dia, proporcionando uma forma alternativa de se encarar eventos adversos.

Vale ressaltar que, para que possam exercitar a boa forma mental, as mães precisam exercitar a empatia para com si mesmas, identificando suas limitações e as encarando como oportunidades de desenvolvimento. Fundamental também é a empatia pelos outros, que possibilita a criação de uma atmosfera de confiança e segurança, fortalecendo os laços e impactando positivamente o ambiente familiar. E um ambiente harmonioso e saudável dentro de casa é o objetivo pelo qual todas as mães procuram.

A boa forma mental, técnica poderosa e transformadora que pode beneficiar a todos – mães, profissionais, jovens, idosos – mas não se aplica apenas a indivíduos. Por meio de programas de desenvolvimento integrado, é possível levar essa prática também para dentro das organizações, onde o autoconhecimento dos integrantes de uma equipe e fortalecimento de técnicas de reconexão, podem gerar grandes transformações.

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