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O caminho do meio e a liberdade

Hoje foi uma daquelas manhãs, em que dormi menos do que gostaria, e acordei com meu corpo pedindo colo. A Bianca do passado teria ignorado o sentimento – não de propósito, mas por falta de atenção. Quem, na vida maluca 24/7, tem tempo de ouvir seu próprio corpo? Eu, até muito pouco tempo atrás, não tinha. Vida que segue, eu me dizia. E assim se passaram mais de 40 anos da minha vida. As pessoas ao meu redor sempre se questionavam de onde vinha tanta energia, como eu conseguia “dar conta” de tudo. Eu vivia todos os campos da minha vida com intensidade, e atingia bons resultados no que fazia. No entanto, tinha um “campo” da minha vida que não recebia energia nenhuma: meu mundo interno. Sem consciência dele, não tinha controle, e com isso, não tinha poder. Minha visão de sucesso não passava por ele, então porquê lhe dar atenção?

Isso começou a mudar em 2019, quando a vida começou a pesar. Procurei ajuda e, com medo, comecei a olhar pra este mundo que vivia dentro de mim. Foi um processo longo e não linear. Primeiro olhei pela fechadura, depois abri uma janelinha, até que resolvi abrir a porta. Também com medo, resolvi dar um passo e “mudar de cômodo”. Deixei meu emprego, me mudei pro exterior, e desde então tenho explorado “o resto da casa”. Depois disto, me formei como coach, li e ouvi mais de duas dezenas de livros sobre todos os assuntos possíveis e relacionados (ou não), caminhei por longas horas. Cozinhei, dei banho no meu filho todos os dias, aprendi uma língua. Sem pressão, sem pretensão, porquê o objetivo mesmo era viver e aprender sobre esta pessoa com quem convivo desde que nasci: eu mesma. O inesperado foram as outras coisas que aprendi (além de uma nova profissão) neste período. Isso não vem ao caso hoje, então não vou entrar neste assunto. Mas que foram muitas coisas, foram.

Até que chegou o dia de hoje. Cansada, optei por meditar ao invés de estudar – algo que a Bianca “antiga” jamais teria feito. A meditação do aplicativo era sobre “o caminho do meio”. E com ela veio uma cascata de reflexões sobre o meu caminho, sobre o meu caminho do meio. Hoje comemoro um milestone. Não sou mais uma pessoa tudo-ou-nada. Trilho o caminho do meio. Sou livre.

Esta grande mudança ocorreu quando consegui reduzir o volume da minha voz interna, crítica, perfeccionista, exigente e às vezes cruel, e aumentei o volume da minha voz interna amiga, positiva e cheia de auto-compaixão. Passei a pensar em três perspectivas: a minha, que geralmente é mais apegada e intensa, a do outro, através de exercícios diários de empatia, e a de um terceiro, mais distante e dissociado – a mosca na parede que está enxergando a situação como ela é. Esta nova perspectiva tri-dimensional tem sido muito importante pra mim, principalmente nos momentos difíceis ou nos fracassos. Ela me ajuda a voltar pro plano quando saio dele, e torna a vida mais leve. Vida mais leve é mais fácil de levar. Com isso, consigo ir mais longe e acabo fazendo mais. Sinceramente, por este aprendizado eu não esperava… mas quando olho tudo o que aprendi nestes últimos 9 meses, vejo que aqui está o “segredo”. Penso grande nos sonhos, mas pequeno no dia-a-dia. Pequenos objetivos, pequenos passos. Consistência não me falta – todos os dias avanço um pouquinho. E quando não avanço tudo bem – volto pro plano no dia seguinte. Além disto, também passei a pensar em abundância – nosso cérebro é flexível, e podemos sim ser o que quisermos e mudar o que quisermos. E isso não é bullshit, é ciência.

O caminho do meio, no final das contas, é um hábito. Um nova forma de se pensar, que precisa ser aprendida e evoluída. Esta forma de pensar começa com um questionamento constante, e nos tira do modo automático: “O que é importante pra mim?” “Porque estou fazendo isto?” “Qual o real impacto de fazer/ não fazer tal coisa?” “O que quero deste relacionamento?” Na nova forma de pensar, a gente sai do automático e começa a fazer aquilo o que mais fazíamos quando tínhamos 4 anos de idade: questionar. Com a prática, fazer perguntas volta a ser algo intuitivo, e passamos a agir com intenção. Quando isso acontece, o mundo externo começa a mudar também. A mudança de mindset é um caminho longo e multidisciplinar, como a reforma de uma casa. Começa por dentro, pela estrutura, até que a nova estrutura ganha um novo revestimento, e então o mundo externo consegue enxergar que sim, houve uma reforma. E como melhorou a casa! Mais confortável por dentro, mais bonita por fora! Quanto valor foi criado, passo a passo, uma pequena mudança de cada vez!

Ao olhar pela janela da minha nova casa, o que enxergo é liberdade. Nunca fui tão livre, tão capaz. Cansada (hoje) sim, mas tranquila e realizada. Esta casa nova é demais! Nela mora um ser HUMANO.

E você, como poderia tornar sua casinha mais confortável e bonita?

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