Eu recentemente comecei à trabalhar em uma empresa cuja cultura é de transparência total. O que que isso significa é que toda e qualquer informação está disponível no momento em que as coisas acontecem, para todos, através de uma ferramenta própria para isto (no nosso caso, através do Slack). Isto vai de questões táticas à estratégicas. Obviamente existem grupos fechados nos níveis mais estratégicos, mas o dia-a-dia da empresa acontece em real-time, para todos.
O uso da ferramenta e a cultura permitem uma real colaboração entre as pessoas de todos os níveis, de forma aberta. Nela você acompanha discussões entre diretores, sócios, e também entre o estagiário e o sócio fundador. Esta troca “vertical” (uso as aspas porquê nosso conceito de hierarquia também é diferente do tradicional), permite que a liderança se aproxime de todos os temas importantes da companhia, que muitas vezes demoram à chegar até ela. Esta proximidade, além de permitir uma rápida intervenção quando necessário, também acaba gerando empatia e favorecendo o clima organizacional.
Este modelo de comunicação praticamente elimina a necessidade de alinhamentos – as infindáveis reuniões que por vezes consomem toda a energia de uma corporação. Ao invés de ficar em uma sala de reunião, os colaboradores podem usar seu tempo em tarefas que agregam valor: com clientes, sendo criativos, tendo reuniões que de fato são necessárias. O resultado disso são agendas com muito mais “espaços em branco”. Este foi meu primeiro choque cultural ao chegar aqui, pois em experiências anteriores 35 horas da semana eram preenchidas por reuniões. Hoje sinto que sou dona do meu tempo, pela primeira vez em anos. Outro ponto muito interessante no tema transparência + calendário: as agendas são abertas. Não só com pares, gestores e subordinados, mas com todos! Quer marcar um papo com o sócio fundador? Entrando na agenda dele você verá, com detalhes, onde ele está e estará nas próximas semanas.
Nesta realidade, o uso de email é quase insignificante. Este só é utilizado para comunicação com pessoas externas à companhia. Adiciona-se aqui o impacto da produtividade de as próprias pessoas escolherem quais temas/grupos são relevantes para sua atuação, ao invés de o contrário. O modelo da transparência total empodera as pessoas ao partir do princípio que as pessoas são maduras e tem um objetivo/propósito em comum. Entende-se que os colaboradores vão tanto buscar informações sempre que precisarem, mas que também vão contribuir para a resolução de problemas mesmo quando estes não são seu escopo ou responsabilidade direta.
A empresa não oferece bônus individuais – ou todos ganham, ou ninguém ganha nada. A cultura somada ao sistema de incentivos fomenta um nível de cooperação altíssimo, além de reduzir em muito o corporativismo. À meu ver, não é a toa que startups e empresas menores estão crescendo tão rápido e ameaçando as grandes empresas. Isto coloca um desafio extremamente complexo às grandes empresas, pois a cultura é provavelmente o elemento mais difícil de se moldar ou alterar em uma organização.